Reflexos

A imagem…

Sim, foi um pouco complicado ver-me num corpo que não me pertencia (achava eu).

A primeira vez que me vi, foi através de um ecrã pequeno de uma máquina fotográfica. Não era muito perceptível, pois a foto tinha sido tirada um pouco distante, no entanto foi o suficiente para ficar pasmado com o que via ali.

Quando me falavam de como era o meu estado eram um pouco brandos, apesar de eu sentir que era pior do que me transmitiam, mas, nunca consegui imaginar que um acidente com queimaduras me pudesse retirar todos os traços da minha imagem.

Quando tive maior oportunidade para me ver com mais tempo, mais calma, e mais próximo, os olhos era a única parte que eu conseguia identificar como sendo meus.

Tantas vezes adormeci na esperança que ao acordar ia ver que aquela imagem não tinha passado de um sonho mau. Não era…

Perguntaram-me recentemente, se ainda me via como era antes do acidente.

Obviamente não esqueço essa imagem.

Houve tempos em que eu sonhava e via-me como tinha sido. Ao acordar ficava parado, confuso, triste…

Nos sonhos por vezes encontrava-me a correr, e ao acordar via-me ali deitado sem uma das pernas e a única forma de me deslocar era com a cadeira de rodas.

Sempre que isso me aconteceu, ao ir ao quarto de banho parei várias vezes em frente ao espelho para, de certa forma, formatar o cérebro para a minha nova imagem.

Hoje sonho exatamente como estou. As dificuldades que tenho no meu dia a dia são transportadas para os sonhos.

 

 

 

 

 

 

Não tenho qualquer tipo de desconforto a ver-me refletido, pelo contrário, é um orgulho!

 

 

 

 

1 Comment

  1. Thank you 🙂

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  1. writeaessay

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